sexta-feira, 4 de maio de 2012

Vivência Escolares de um Trabalho Coletivo – Curriculum Vitae


Minha história de vida se entrelaça com minha vida educacional, pois nasci dentro de uma escola e passei grande parte da minha vida até  a adolescência dentro de um orfanato, convivendo intensivamente com os ideais de educação de um casal muito especial  que “transpirava amor” e carinho por criança, procurando minimizar suas carências afetivas com firmeza de ações com objetivo de formar cidadãos capazes de lutar por seus direitos de serem felizes.

Lembro-me, com emoção, dos  momentos vibrantes das brincadeiras em conjunto com aquelas crianças numa casa enorme e organizada, onde fui alfabetizada e imitava as professoras do educandário, dando aulas para minhas amigas e companheiras do dia-a-dia.

Minha mãe sabia que “santo de casa não faz milagre” e aos sete anos fui, pela primeira vez, à Escola Pública República do Peru, no Méier-RJ onde íamos de bonde transporte que me traz lembraças bucólicas.

No ano  seguinte, fomos transferidos para a Escola Honório Gurgel que ficava mais perto de casa. Sempre muito falante, consegui logo ganhar a admiração de minha professora Cáritas Machado, de quem nunca mais esqueci, e com a qual convivi com laços fortes de amizades,  companheirismo e admiração.

No ano seguinte, como era excelente aluna, fui escolhida para frequentar a turma de nível III. Penso ter sido um erro, pois apesar de ler bem, não tinha maturidade suficiente para acompanhar a turma em matemática, o meu eterno “bicho-papão” até  hoje. Mas, fui caminhando…

Mais tarde com acontecimento inesperado de doença na família, fomos obrigados a nos mudar para outro Município do Estado- Muriqui  onde cheguei no início da adolescência, com inúmeras deficiências e com experiência de fracasso em algumas áreas, para frequentar o Grupo Escolar na 4ªserie.

Minha mãe, agora com mais tempo para dedicação à enorme família,( eu, meu irmão gêmeo e mais três irmãs de criação meu pai e nossa querida empregada chamada Davina que era nossa segunda mamãe), estudava conosco todas as tardes. Eu e meu querido irmão tínhamos que ser preparados para o “admissão”. Temos certezas que foi nesta época que conseguimos o melhor embasamento para enfrentarmos a dita escola do segundo segmento cheia de professores, com exigências nas disciplinas tão  fragmentadas.

Vivemos experiências mil na participação coletiva nesta escola junto à comunidade, com atividades e eventos do Grêmio, a banda da escola, etc… Aquela fase de descobertas e desejo múltiplos, foi compartilhada com vida saudável, com andanças de bicicleta ao entardecer pela orla marítima e por toda a cidade com o grupo de amigas da pequena cidade de veraneio. Verões quentes e buliçosos de uma adolescência inocente, comportada e reprimida por uma educação rígida, mas feliz.

Voltamos à Cidade Maravilhosa já na sétima série, e por motivo de falta de vaga na Escola Pública do Rio de Janeiro, cursei uma escola particular. No ano seguinte, na oitava série, retornei à Escola Pública, da qual me orgulho pelos momentos que passei com professores dedicados e preocupados em nos dar o melhor ensino. Conheci, lá, uma educadora  que me fez pensar em História: viajávamos ora à Grécia, ora à Roma em “slides”e fotografias maravilhosas. A Professora Laila passeava conosco, transcorrendo detalhes pitorescos e sempre buscando o confronto  com a nossa História atual. Tinha quase certeza que me tornaria uma professora de História.

Momentos de tristezas marcantes… Naquele ano perdi minha querida mãe, que me legou o espírito idealista e a seriedade profissional com que encaro minha função como educadora nos dias de hoje. Apesar de ainda ser muito jovem – quinze anos – decidi lutar por um espaço na área de educação, levantando a bandeira em prol dos mais carentes, através do grupo jovem da igreja perto de minha casa.

Ingressei na Escola Normal, um dos momentos mais marcantes, vivido com entusiasmo e dedicação, com colegas e amigas geniais. No terceiro ano Normal, concomitantemente, fiz o “cursinho” vestibular. Um ano difícil, de muito estudo, estágio e dedicação exclusiva  ao meu ideal de cursar uma faculdade que  desse subsídios para mudanças necessárias na Educação e um ensino de qualidade na Escola Pública, que já pudera usufruir.

No ano de 1977 passei para Universidade Federal Fluminense, entrando, também , para o Magistério Público. Sendo uma das que logo escolheu escola, devido à classificação, pude ficar na zona sul, não precisando ter que ir lá pra “cima” – Pedra de Guaratiba, Campo Grande, etc… como várias colegas o fizeram por falta de escolha.

Para minha surpresa e real emoção, meu primeiro emprego foi em um orfanato de freiras chamado Mello Mattos, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ao subir a ladeira que levava àquela Instituição, era só arrepio, repassando momentos que vivi na minha infância, que estavam ali passando como um filme real. Em contato com aquelas crianças carentes que tanto precisavam de ajuda e carinho pude vivenciar momentos de afeto e adquirir experiências e trocá-las com alunos do Jardim de Infância.

 No ano seguinte, como a professora de licença voltou, pedi remoção para uma Escola – Modelo com “plano de otimização” e mudanças de vanguarda com uma equipe maravilhosa e capaz, que buscava sempre aprender e inovar. Lá aprendi com as colegas e nos encontros pedagógicos  as facetas da alfabetização com passos firmes, trocando sempre nossas experiências. Trabalhamos projetos inovadores e ricos em experiência. Lá, permaneci durante cinco anos, e criei laços fortes de amizade e companheirismo.

Mas a vida continua… e já casada tive meu primeiro filho em 1981, com os atropelos e dificuldades da vida, pedi remoção para perto da minha casa e que em uma  inesperada surpresa foi que apesar de ser nova no Magistério Público, e de nunca ter ido para “Deus-me-livre” como as colegas diziam, fui a última da remoção a entrar para a escola na Tijuca, bairro onde moro até hoje.

 Como fiquei contente! Lembro-me que vim pulando de alegria do então 7ºDEC à minha casa para dar a notícia ao meu marido. Agora, poderia conciliar melhor a minha vida nova de mãe, com o trabalho que é primordial para que me sinta gente e útil.

Minha nova fase de vida, na Escola Francisco Cabrita, começou em 1983, onde cheguei para me apresentar no início de fevereiro.

Sempre querendo experiências novas, com idealismo e muita garra, conversei com a Direção sobre a vaga de supervisora que havia na escola, que soube existir através de colegas e da própria Diretora-Adjunta – Professora Gilda – profissional competente que soube dar muito apoio e força para e prosseguir  no trabalhar em tal função.

Lá, trabalhei durante todo o ano com profissionais de larga experiência e com mais de vinte anos de exercício de função, que me impressionaram com sua vontade e abertura para trabalhar “projetos”  novos propostos por mim: “Método Italiano de Alfabetização”, que foi aplicado por todas as classes de alfabetização e surpreendentemente  adaptado à realidade das turmas com exercícios novos e criativos, elaborados pelas professoras Vera e Maria do Carmo ( professora que alfabetizou meu primeiro filho) que hoje estão aposentadas, mas que sempre continuarão a brilhar como estrelas e exemplo de idealismo e bravura. Elas através dos livrinhos de história e músicas encantavam as crianças, que incentivadas aprendiam com prazer o gosto pela leitura.

“Acho que cada professor deve criar o próprio método de trabalho, porque cada aluno é diferente e cada grupo é diferente. E, principalmente vou ensinar aos meus alunos que ler é importante, porque nos humaniza, nos emociona, nos comove. E quem tem coragem de chorar é porque está vivo, porque pulsa, porque vibra. Quem sabe chorar, também sabe explodir de alegria. O pior homem do mundo é indiferente, porque o seu coração é um deserto, e no deserto não nascem flores”. (Gil Neto)

Também em 1983 trabalhei no CAP ( Colégio de Aplicação do Rio de Janeiro), convidada por minha querida colega do tempos da Escola Municipal Georg Pfisterer, professora Alice Romero, ilustre educadora com ativa participação até hoje em palestras, encontros educacionais na SME-RJ.

 Foi uma experiência ímpar, com a qual aprendi muito e pude conhecer pessoas incríveis. O trabalho coletivo e os projetos desenvolvidos no colégio com toda a comunidade escolar eram emocionantes. Bons  tempos… Mas, não pude permanecer; no ano seguinte, a professora titular voltou e minha contratação era provisória.

No ano de 1984 continuei na escola pública, pedindo licença em agosto para ter meu caçulinha… grandes alegrias, fraldas, amamentação, passeios para pegar sol… leituras sobre as fases da criança sempre que possível.

Retornei ao trabalho em 1985 e fui convidada pela Direção para assumir a Secretaria e o Núcleo (setor pessoal) mas, a angústia tomou conta do meu coração. O trabalho acumulado e somente administrativo  era por demais pesado para mim. Descobri que gostava mesmo era de lidar com alunos e o pedagógico era  muito mais gostoso e gratificante. Logo, pedi demissão da função e quis voltar para turma em fevereiro.

 A troca professor / aluno interagia,  participava com meus queridos alunos de tudo que acontecia na escola: projetos, atividades diversificadas , visitas pedagógicas, etc.

Assim os anos foram passando, ficando a certeza que viemos a este mundo não só para passear, e sim, com alguns objetivos.

 Em 1990, fui convidada pela Diretora-Adjunta da época, professora Maria Cristina Monteiro da Silva, para compor a chapa na disputa pela direção da Escola Municipal Francisco Cabrita.

A professora Henny Terezinha diretora por cinco brilhantes anos de trabalho nesta escola estava para se aposentar. Ela ainda ficou conosco um período na sala de leitura, onde desenvolveu um trabalho de renovação junto com professora Maria Aparecida elaborando e pensando projetos e  ações que abrilhantaram e fortaleceram o sucesso com toda a comunidade escolar.

Belas parcerias no fazer  diário da escola!!

A professor Mª Cristina minha colega e amiga, pela qual tenho maior carinho e respeito, não só pela sua verdadeira competência, garra e dinamismo profissional, como também pelo seu lado humano, carismático, no respeito pelos alunos, que a chamavam de carinhosamente de “Sargentão”, exigiu apenas que eu fosse a diretora da escola e que ela fosse, então, a minha adjunta e colaboradora.

Pensei…Pensei…Pensei e  por que não aceitar? Não tinha experiência em administração, mas tinha uma companheira vibrante e uma equipe de professores bastante competente, que me davam muito apoio e faziam parcerias. Resolvi aceitar e comecei um trabalho de renovação da escola com apoio de grandes profissionais da área pedagógica  com as supervisoras: Ana Sena, Malvina Tuttman, Nilci  e a orientadora educacional Regina Porto.  Inovamos com a formalização do PPP da escola onde todos os segmentos foram convocados a participarem do fazer escolar. Dividimos a escola em setores e firmamos grupos de estudo com o objetivo de “pensar a escola”, e discutir, através de ações conjuntas, formas de melhorar a escola como um todo busca de parcerias com a comunidade.

O planejamento participativo foi implantado: o pensar, o agir e o transformar coletivamente era nossa meta para os primeiros dois anos. A criação do grêmio estudantil, a reativação da sala de leitura, o “papel” do recreio, a criação do Conselho Escola-Comunidade (CEC), a participação dos clubes de inglês e francês, projetos e eventos oriundos da SME e os criados e ou  transformados, modelando um novo conceito de participação coletiva.

Gestão participativa . Esta é a nossa bandeira! Momentos difíceis, momentos maravilhosos…A escola é viva… Viva a nossa escola! A reeleição foi certa, precisava continuar o trabalho no qual acredito.

Minha adjunta se aposentava. Nova fase de luta. Agora pude escolher duas adjuntas. Tinha terminado meu curso de administração na UERJ. Com base e experiência adquiridas em dois anos de bravura…Vontade de acertar e algumas dificuldades. Neste mandato era preciso “atacar” a parte pedagógica da escola, pois ficamos reduzidos a poucos profissionais na equipe devido à aposentadoria e transferência de alguns. Só ficamos com a Orientadora Educacional da equipe de Supervisão, professor Regina Porto da Silva, profissional de alma invejável, capacitadíssima, como se diz nos ditos populares: “pau para toda obra”, levou com fé os projetos e o planejamento 92/94 com ênfase de 1ª a 4ª série junto com minhas novas adjuntas: Professora Angela Agoglia, que com seriedade e grande profissionalismo, lutou pela humanização da escola com seu jeitinho especial, buscou a participação de todos os profissionais com capacidade e elegância do francês, sua disciplina do coração. Ainda obtive a colaboração da minha outra adjunta, Professora Teresa Cristina S.P. Machado. Essas parceiras deram à administração a continuação do trabalho coletivo que acredito e se faz mister na Escola. As reuniões periódicas com os pais, professores, funcionários e direção para acertamos ações conjuntas são o sucesso desta gestão. Caminhos difíceis,conflitos, obstáculos encontrados, mas objetivos claros, determinados e coesos.

 A Escola continua viva….Viva a Escola!..

Dúvidas, cansaço, reativação de energia… É preciso continuar… Nova eleição para gestão 95/96, o trabalho continua, não só à frente da direção da escola, mas ao lado de profissionais competentes que a escola recebe – um grande grupo – devido ao pedido de aposentadoria feito por muitos servidores em 1994. A expectativa é enorme e nas minhas observações diárias chamou-me a atenção da professora de geografia Sílvia Maria Gomes pelo seu bom humor e relacionamento com alunos e colegas. Convidei-a para estar conosco na direção da escola, substituindo a professora Angela, que por problemas particulares não poderia continuar no setor administrativo da escola.

Deus! Que ano de 95 difícil! Desde o começo acontenceu de tudo. Considero este ano atípico, com muitos problemas de disciplina, administrativos e até mesmo pedagógicos, devido à falta cada vez maior de pessoal na escola. Conseguimos chegar ao final do ano com saldo positivo  e vivos. A escola está viva, apesar do princípio de incêndio na parte elétrica e atentados à bomba…Ufa…Ufa… venceremos e chegaremos lá. Já estamos pensando em algumas reformulações para 1996, sacudindo toda a poeira, entraremos num ano cheio de esperanças e com melhores resultados. “Para  superarmos a crise, precisamos elaborar novos sonhos  e articular um novo sentido de vida.” (Leonardo Boff)

Ano pesado, mas surpreendente fui chamada em janeiro para assumir a orientação pedagógica de uma Escola do 3º distrito de Duque de Caxias, Santa Luzia. Este concurso, fiz em 1993, incentivada pelo meu marido que trabalha nesta região e soube, assim, das inscrições. A SME de lá está em ritmo de mudanças de currículo nas séries iniciais (C.A e 1ª série) e nas questões de avaliação. Com seis meses de escola fui chamada pela SME para participar das discussões na mudança do currículo, para fazer entrevistas com o pessoal da área pedagógica e para trabalhar na equipe. Mas, sabendo do meu compromisso com a SME do Rio de Janeiro, não pude aceitar devido a carga horária.

Essas experiências novas muito me enriqueceram e reforçaram as minhas idéias sobre planejamento, vivência coletiva e o papel dos profissionais de educação na escola e nas ações educacionais.

Pensando e repensando sobre tudo, resolvi  voltar a estudar e busquei a pós-graduação em psicopedagogia, que desde algum tempo vinha adiando. Agora é a hora. Optei por psicopedagogia para buscar subsídios que me permitissem aproveitar e aprofundar os conhecimentos decorrentes de minha formação interdisciplinar, obtendo pistas para o trabalho psicopedagógico na Escola Pública e com os professores possibilitando-os compreender sua prática os meios necessários para suscitar o progresso e o sucesso dos alunos.

“A vida é plena de possibilidades que nos desafiam, a cada dia, a correr riscos, e tentar coisas novas, ver coisas com olhos novos. Porque é só quando tentamos que descobrimos do que somos capazes. Então, não espere até amanhã para descobrir alguma coisa nova”

Quero e continuo buscando soluções e força no alunado e nesta troca com meus colegas, com dinamismo e entusiasmo por acreditar que juntos podemos mudar a situação de nosso país através da educação, quero continuar a luta e com ela, levando bandeiras de um ensino mais justo e democrático e viver o meu dia a dia com    e perseverança, palavras-chave de qualquer iniciativa maior.

Educação para todos!

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