Minha história de vida
se entrelaça com minha vida educacional, pois nasci dentro de uma escola e
passei grande parte da minha vida até a
adolescência dentro de um orfanato, convivendo intensivamente com os ideais de
educação de um casal muito especial que
“transpirava amor” e carinho por criança, procurando minimizar suas carências
afetivas com firmeza de ações com objetivo de formar cidadãos capazes de lutar
por seus direitos de serem felizes.
Lembro-me, com emoção,
dos momentos vibrantes das brincadeiras
em conjunto com aquelas crianças numa casa enorme e organizada, onde fui
alfabetizada e imitava as professoras do educandário, dando aulas para minhas
amigas e companheiras do dia-a-dia.
Minha mãe sabia que
“santo de casa não faz milagre” e aos sete anos fui, pela primeira vez, à
Escola Pública República do Peru, no Méier-RJ onde íamos de bonde transporte
que me traz lembraças bucólicas.
No ano seguinte, fomos transferidos para a Escola
Honório Gurgel que ficava mais perto de casa. Sempre muito falante, consegui
logo ganhar a admiração de minha professora Cáritas Machado, de quem nunca mais
esqueci, e com a qual convivi com laços fortes de amizades, companheirismo e admiração.
No ano seguinte, como
era excelente aluna, fui escolhida para frequentar a turma de nível III. Penso
ter sido um erro, pois apesar de ler bem, não tinha maturidade suficiente para
acompanhar a turma em matemática, o meu eterno “bicho-papão” até hoje. Mas, fui caminhando…
Mais tarde com
acontecimento inesperado de doença na família, fomos obrigados a nos mudar para
outro Município do Estado- Muriqui onde
cheguei no início da adolescência, com inúmeras deficiências e com experiência
de fracasso em algumas áreas, para frequentar o Grupo Escolar na 4ªserie.
Minha mãe, agora com
mais tempo para dedicação à enorme família,( eu, meu irmão gêmeo e mais três
irmãs de criação meu pai e nossa querida empregada chamada Davina que era nossa
segunda mamãe), estudava conosco todas as tardes. Eu e meu querido irmão tínhamos
que ser preparados para o “admissão”. Temos certezas que foi nesta época que
conseguimos o melhor embasamento para enfrentarmos a dita escola do segundo
segmento cheia de professores, com exigências nas disciplinas tão fragmentadas.
Vivemos experiências
mil na participação coletiva nesta escola junto à comunidade, com atividades e
eventos do Grêmio, a banda da escola, etc… Aquela fase de descobertas e desejo
múltiplos, foi compartilhada com vida saudável, com andanças de bicicleta ao
entardecer pela orla marítima e por toda a cidade com o grupo de amigas da
pequena cidade de veraneio. Verões quentes e buliçosos de uma adolescência
inocente, comportada e reprimida por uma educação rígida, mas feliz.
Voltamos à Cidade Maravilhosa
já na sétima série, e por motivo de falta de vaga na Escola Pública do Rio de
Janeiro, cursei uma escola particular. No ano seguinte, na oitava série,
retornei à Escola Pública, da qual me orgulho pelos momentos que passei com
professores dedicados e preocupados em nos dar o melhor ensino. Conheci, lá,
uma educadora que me fez pensar em
História: viajávamos ora à Grécia, ora à Roma em “slides”e fotografias
maravilhosas. A Professora Laila passeava conosco, transcorrendo detalhes
pitorescos e sempre buscando o confronto com a nossa História atual. Tinha quase
certeza que me tornaria uma professora de História.
Momentos de tristezas
marcantes… Naquele ano perdi minha querida mãe, que me legou o espírito
idealista e a seriedade profissional com que encaro minha função como educadora
nos dias de hoje. Apesar de ainda ser muito jovem – quinze anos – decidi lutar
por um espaço na área de educação, levantando a bandeira em prol dos mais
carentes, através do grupo jovem da igreja perto de minha casa.
Ingressei na Escola
Normal, um dos momentos mais marcantes, vivido com entusiasmo e dedicação, com
colegas e amigas geniais. No terceiro ano Normal, concomitantemente, fiz o
“cursinho” vestibular. Um ano difícil, de muito estudo, estágio e dedicação exclusiva
ao meu ideal de cursar uma faculdade que
desse subsídios para mudanças
necessárias na Educação e um ensino de qualidade na Escola Pública, que já
pudera usufruir.
No ano de 1977 passei
para Universidade Federal Fluminense, entrando, também , para o Magistério
Público. Sendo uma das que logo escolheu escola, devido à classificação, pude
ficar na zona sul, não precisando ter que ir lá pra “cima” – Pedra de
Guaratiba, Campo Grande, etc… como várias colegas o fizeram por falta de
escolha.
Para minha surpresa e
real emoção, meu primeiro emprego foi em um orfanato de freiras chamado Mello
Mattos, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ao subir a ladeira que levava
àquela Instituição, era só arrepio, repassando momentos que vivi na minha
infância, que estavam ali passando como um filme real. Em contato com aquelas
crianças carentes que tanto precisavam de ajuda e carinho pude vivenciar
momentos de afeto e adquirir experiências e trocá-las com alunos do Jardim de
Infância.
No ano seguinte, como a professora de licença
voltou, pedi remoção para uma Escola – Modelo com “plano de otimização” e
mudanças de vanguarda com uma equipe maravilhosa e capaz, que buscava sempre
aprender e inovar. Lá aprendi com as colegas e nos encontros pedagógicos as facetas da alfabetização com passos firmes,
trocando sempre nossas experiências. Trabalhamos projetos inovadores e ricos em
experiência. Lá, permaneci durante cinco anos, e criei laços fortes de amizade
e companheirismo.
Mas a vida continua… e
já casada tive meu primeiro filho em 1981, com os atropelos e dificuldades da
vida, pedi remoção para perto da minha casa e que em uma inesperada surpresa foi que apesar de ser nova
no Magistério Público, e de nunca ter ido para “Deus-me-livre” como as colegas diziam, fui a última da remoção a entrar
para a escola na Tijuca, bairro onde moro até hoje.
Como fiquei contente! Lembro-me que vim
pulando de alegria do então 7ºDEC à minha casa para dar a notícia ao meu
marido. Agora, poderia conciliar melhor a minha vida nova de mãe, com o
trabalho que é primordial para que me sinta gente e útil.
Minha nova fase de
vida, na Escola Francisco Cabrita, começou em 1983, onde cheguei para me
apresentar no início de fevereiro.
Sempre querendo
experiências novas, com idealismo e muita garra, conversei com a Direção sobre
a vaga de supervisora que havia na escola, que soube existir através de colegas
e da própria Diretora-Adjunta – Professora Gilda – profissional competente que
soube dar muito apoio e força para e prosseguir no trabalhar em tal função.
Lá, trabalhei durante
todo o ano com profissionais de larga experiência e com mais de vinte anos de
exercício de função, que me impressionaram com sua vontade e abertura para
trabalhar “projetos” novos propostos por
mim: “Método Italiano de Alfabetização”, que foi aplicado por todas as classes
de alfabetização e surpreendentemente adaptado à realidade das turmas com exercícios
novos e criativos, elaborados pelas professoras Vera e Maria do Carmo (
professora que alfabetizou meu primeiro filho) que hoje estão aposentadas, mas
que sempre continuarão a brilhar como estrelas e exemplo de idealismo e
bravura. Elas através dos livrinhos de história e músicas encantavam as
crianças, que incentivadas aprendiam com prazer o gosto pela leitura.
“Acho
que cada professor deve criar o próprio método de trabalho, porque cada aluno é
diferente e cada grupo é diferente. E, principalmente vou ensinar aos meus
alunos que ler é importante, porque nos humaniza, nos emociona, nos comove. E
quem tem coragem de chorar é porque está vivo, porque pulsa, porque vibra. Quem
sabe chorar, também sabe explodir de alegria. O pior homem do mundo é
indiferente, porque o seu coração é um deserto, e no deserto não nascem
flores”. (Gil Neto)
Também em 1983
trabalhei no CAP ( Colégio de Aplicação do Rio de Janeiro), convidada por minha
querida colega do tempos da Escola Municipal Georg Pfisterer, professora Alice
Romero, ilustre educadora com ativa participação até hoje em palestras,
encontros educacionais na SME-RJ.
Foi uma experiência ímpar, com a qual aprendi
muito e pude conhecer pessoas incríveis. O trabalho coletivo e os projetos
desenvolvidos no colégio com toda a comunidade escolar eram emocionantes. Bons tempos… Mas, não pude permanecer; no ano
seguinte, a professora titular voltou e minha contratação era provisória.
No ano de 1984
continuei na escola pública, pedindo licença em agosto para ter meu caçulinha…
grandes alegrias, fraldas, amamentação, passeios para pegar sol… leituras sobre
as fases da criança sempre que possível.
Retornei ao trabalho em
1985 e fui convidada pela Direção para assumir a Secretaria e o Núcleo (setor
pessoal) mas, a angústia tomou conta do meu coração. O trabalho acumulado e
somente administrativo era por demais
pesado para mim. Descobri que gostava mesmo era de lidar com alunos e o pedagógico
era muito mais gostoso e gratificante.
Logo, pedi demissão da função e quis voltar para turma em fevereiro.
A troca professor / aluno interagia, participava com meus queridos alunos de tudo
que acontecia na escola: projetos, atividades diversificadas , visitas
pedagógicas, etc.
Assim os anos foram
passando, ficando a certeza que viemos a este mundo não só para passear, e sim,
com alguns objetivos.
Em 1990, fui convidada pela Diretora-Adjunta
da época, professora Maria Cristina Monteiro da Silva, para compor a chapa na
disputa pela direção da Escola Municipal Francisco Cabrita.
A professora Henny
Terezinha diretora por cinco brilhantes anos de trabalho nesta escola estava
para se aposentar. Ela ainda ficou conosco um período na sala de leitura, onde
desenvolveu um trabalho de renovação junto com professora Maria Aparecida
elaborando e pensando projetos e ações
que abrilhantaram e fortaleceram o sucesso com toda a comunidade escolar.
Belas parcerias no
fazer diário da escola!!
A professor Mª Cristina
minha colega e amiga, pela qual tenho maior carinho e respeito, não só pela sua
verdadeira competência, garra e dinamismo profissional, como também pelo seu
lado humano, carismático, no respeito pelos alunos, que a chamavam de
carinhosamente de “Sargentão”, exigiu apenas que eu fosse a diretora da escola
e que ela fosse, então, a minha adjunta e colaboradora.
Pensei…Pensei…Pensei e por que não aceitar? Não tinha experiência em
administração, mas tinha uma companheira vibrante e uma equipe de professores
bastante competente, que me davam muito apoio e faziam parcerias. Resolvi
aceitar e comecei um trabalho de renovação da escola com apoio de grandes
profissionais da área pedagógica com as
supervisoras: Ana Sena, Malvina Tuttman, Nilci e a orientadora educacional Regina Porto. Inovamos com a formalização do PPP da escola
onde todos os segmentos foram convocados a participarem do fazer escolar.
Dividimos a escola em setores e firmamos grupos de estudo com o objetivo de
“pensar a escola”, e discutir, através de ações conjuntas, formas de melhorar a
escola como um todo busca de parcerias com a comunidade.
O planejamento
participativo foi implantado: o pensar, o agir e o transformar coletivamente
era nossa meta para os primeiros dois anos. A criação do grêmio estudantil, a
reativação da sala de leitura, o “papel” do recreio, a criação do Conselho
Escola-Comunidade (CEC), a participação dos clubes de inglês e francês,
projetos e eventos oriundos da SME e os criados e ou transformados, modelando um novo conceito de
participação coletiva.
Gestão participativa .
Esta é a nossa bandeira! Momentos difíceis, momentos maravilhosos…A escola é
viva… Viva a nossa escola! A reeleição foi certa, precisava continuar o
trabalho no qual acredito.
Minha adjunta se
aposentava. Nova fase de luta. Agora pude escolher duas adjuntas. Tinha
terminado meu curso de administração na UERJ. Com base e experiência adquiridas
em dois anos de bravura…Vontade de acertar e algumas dificuldades. Neste
mandato era preciso “atacar” a parte pedagógica da escola, pois ficamos
reduzidos a poucos profissionais na equipe devido à aposentadoria e
transferência de alguns. Só ficamos com a Orientadora Educacional da equipe de
Supervisão, professor Regina Porto da Silva, profissional de alma invejável,
capacitadíssima, como se diz nos ditos populares: “pau para toda obra”, levou
com fé os projetos e o planejamento 92/94 com ênfase de 1ª a 4ª série junto com
minhas novas adjuntas: Professora Angela Agoglia, que com seriedade e grande
profissionalismo, lutou pela humanização da escola com seu jeitinho especial,
buscou a participação de todos os profissionais com capacidade e elegância do
francês, sua disciplina do coração. Ainda obtive a colaboração da minha outra
adjunta, Professora Teresa Cristina S.P. Machado. Essas parceiras deram à
administração a continuação do trabalho coletivo que acredito e se faz mister
na Escola. As reuniões periódicas com os pais, professores, funcionários e
direção para acertamos ações conjuntas são o sucesso desta gestão. Caminhos
difíceis,conflitos, obstáculos encontrados, mas objetivos claros, determinados
e coesos.
A Escola continua viva….Viva a Escola!..
Dúvidas, cansaço,
reativação de energia… É preciso continuar… Nova eleição para gestão 95/96, o
trabalho continua, não só à frente da direção da escola, mas ao lado de
profissionais competentes que a escola recebe – um grande grupo – devido ao
pedido de aposentadoria feito por muitos servidores em 1994. A expectativa é
enorme e nas minhas observações diárias chamou-me a atenção da professora de
geografia Sílvia Maria Gomes pelo seu bom humor e relacionamento com alunos e
colegas. Convidei-a para estar conosco na direção da escola, substituindo a
professora Angela, que por problemas particulares não poderia continuar no
setor administrativo da escola.
Deus! Que ano de 95
difícil! Desde o começo acontenceu de tudo. Considero este ano atípico, com
muitos problemas de disciplina, administrativos e até mesmo pedagógicos, devido
à falta cada vez maior de pessoal na escola. Conseguimos chegar ao final do ano
com saldo positivo e vivos. A escola
está viva, apesar do princípio de incêndio na parte elétrica e atentados à
bomba…Ufa…Ufa… venceremos e chegaremos lá. Já estamos pensando em algumas
reformulações para 1996, sacudindo toda a poeira, entraremos num ano cheio de
esperanças e com melhores resultados. “Para superarmos a crise, precisamos elaborar novos
sonhos e articular um novo sentido de
vida.” (Leonardo Boff)
Ano pesado, mas
surpreendente fui chamada em janeiro para assumir a orientação pedagógica de
uma Escola do 3º distrito de Duque de Caxias, Santa Luzia. Este concurso, fiz
em 1993, incentivada pelo meu marido que trabalha nesta região e soube, assim,
das inscrições. A SME de lá está em ritmo de mudanças de currículo nas séries
iniciais (C.A e 1ª série) e nas questões de avaliação. Com seis meses de escola
fui chamada pela SME para participar das discussões na mudança do currículo,
para fazer entrevistas com o pessoal da área pedagógica e para trabalhar na
equipe. Mas, sabendo do meu compromisso com a SME do Rio de Janeiro, não pude
aceitar devido a carga horária.
Essas experiências
novas muito me enriqueceram e reforçaram as minhas idéias sobre planejamento,
vivência coletiva e o papel dos profissionais de educação na escola e nas ações
educacionais.
Pensando e repensando
sobre tudo, resolvi voltar a estudar e
busquei a pós-graduação em psicopedagogia, que desde algum tempo vinha adiando.
Agora é a hora. Optei por psicopedagogia para buscar subsídios que me
permitissem aproveitar e aprofundar os conhecimentos decorrentes de minha
formação interdisciplinar, obtendo pistas para o trabalho psicopedagógico na
Escola Pública e com os professores possibilitando-os compreender sua prática
os meios necessários para suscitar o progresso e o sucesso dos alunos.
“A
vida é plena de possibilidades que nos desafiam, a cada dia, a correr riscos, e
tentar coisas novas, ver coisas com olhos novos. Porque é só quando tentamos
que descobrimos do que somos capazes. Então, não espere até amanhã para
descobrir alguma coisa nova”
Quero e continuo
buscando soluções e força no alunado e nesta troca com meus colegas, com dinamismo
e entusiasmo por acreditar que juntos podemos mudar a situação de nosso país
através da educação, quero continuar a luta e com ela, levando bandeiras de um
ensino mais justo e democrático e viver o meu dia a dia com fé e perseverança,
palavras-chave de qualquer iniciativa maior.
Educação para todos!
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